sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Contos Mijinianos # 6 - O Barco

(Fonte: fotolog)



Em meio a um oceano plácido e deserto em que as luzes do poente se espalham num horizonte de águas infinitas, de algum lugar vozes aflitas ecoam causando um contraste com a calmaria do mar:
- Capitão! Capitão! Ai de nós, pois o barco afundando está! O que hemos de fazer?!
O capitão de grande porte com seu andar desajeitado observa a agitação como quem não entende o porquê de tamanha inquietação de seus marinheiros raquíticos. E com semblante sereno ele, enquanto passa a mão na barriga, diz:
- Ora, homens do mar, para quê tamanho rebuliço? Não há motivos para tanto alarde, pois não vês? Nosso barco navega dentro da água e afundando ele há de voltar para superfície e estaremos todos salvos!
Depois do esclarecimento feito pelo seu capitão fanfarrão os tripulantes da embarcação se dão conta que navegavam do lado de dentro do mar o tempo todo, mas não tinham idéia desde quando isso acontecia. Agora, impregnados pelo medo da situação caótica em que se encontravam, a única coisa que eles almejavam eram retornar sãos e salvos para a superfície. Um dos marinheiros, porém, lançou no ar uma dúvida singular:
- Capitão! O barco está afundando e estamos nós navegando de ponta-cabeça como se a superfície fosse o mar e este a superfície. Se o barco afunda para fora do mar, não hemos nós de afundar nas profundezas da imensidão do mar? Pois o barco de ponta-cabeça retornará ao outro plano e todos nós cairíamos ao infinito fundo do oceano!
O Capitão por sua vez, olha para o marujo que lançou a infame dúvida, vacila como sempre seu cacoete de mão na barriga, passando sempre a idéia de que está à frente de seus subordinados tripulantes, e retruca o argumento do jovem:
- Ora não seja tolo! Pois conheço eu tudo sobre a arte da náutica! Não há o que temer, ó homens do mar. O barco está quase afundando e sabem vocês o que há de acontecer? Pois vou lhes dizer: à medida que a nossa embarcação for afundando ela tende a desvirar num ângulo de 180º quando passar de uma superfície à outra. Assim voltaremos à superfície junto com o barco. Não se esqueçam das leis da gravidade! É a lógica da natureza!
Convencidos pela tamanha sabedoria do circunspeto capitão, todos os marinheiros se acalmam e aguardam pacientemente pela previsão do seu excêntrico superior.
O barco então afunda e, ao passar de um plano para o outro, ele cai em direção ao céu até, aos poucos, desaparecer nas densas nuvens, levando consigo toda uma tripulação amargurada que contempla tudo desiludida e descrente.

Contos Mijinianos # 5 - Hotel Paranóia



 
(Fonte: fotolog)

Quem matou Joaquim?
E por que mataram Joaquim?

Durante uma festa no hotel
uma coisa terrível aconteceu
lamentavelmente Joaquim foi assassinado...
começara tudo numa noite de dezembro
Inês e Lisandra bebiam tinta no corredor
Nonato sozinho no porão
é... foi quando Eclovaldo e Marinete se beijaram no elevador
Inês foi ao banheiro procurar dinossauros
a Doidona estava batendo um papo com a esposa de Joaquim

mais tarde Dulcinéia viu Joaquim e Lisandra na maior intimidade
apareceu depois na festa o sempre atrasado Jozeca
Toda vez isso sempre acontece
o Eclovaldo saiu para tomar ar fresco
Uma hora depois, Joaquim e Lisandra começam a discutir.

Joaquim retira-se da festa
o Eclovaldo entra para dentro do hotel
assustado com a chuva de batata-doce que caiu do céu
queria Jozeca receber o dinheiro que Joaquim estava devendo a um ano
um barulho de caixas caindo no porão é escutável
Inês encontra Lisandra chorando sentada na escada
Marinete vê Joaquim descendo até o porão.

Pensando em trair seu marido, Dulcinéia procura Eclovaldo
o Jozeca subiu para o terraço
rapidamente Doidona atira uma faca contra a parede
quando isso aconteceu, Nonato saiu do porão
Um grito masculino ecoou do 1º andar
e é bom lembrar que a festa ocorreu no antipenúltimo andar!

Eclovaldo esnoba Dulcinéia
sabendo do seu nível, Joaquim insulta Inês
Todas as luzes se apagam
a Marinete se apaixonou por Joaquim e logo se encontram
veio também Eclovaldo ao encontro deles
após Nonato sair do 1º andar, ele vai para o terraço

Contudo, Inês está furiosa e vai para o terraço à procura de Joaquim
o Nonato e o Jozeca também estão a procura dele
mas com a escuridão ficava difícil de procurar e quem estava no terraço desceu...

com essa bagunça toda Doidona resolve pegar uma faca
Inês de tanto beber tinta enlouquece
último a descer do terraço, Nonato carrega uma mala preta
Momentos depois, Lisandra reaparece
e Dulcinéia procura Joaquim
Sem saber de nada, Doidona planta bananeira

de repente, ouve-se o grito de Joaquim
e ninguém sabe o que aconteceu
Lisandra chega desesperada e conta o que aconteceu
Encontraram Joaquim morto com uma faca fincada no peito...

Quem matou Joaquim?
E por que mataram Joaquim?

Contos Mijinianos # 4 - Pombos e Anões



Desde pequeno, uma coisa que eu nunca tinha visto e sempre me deixou com a pulga atrás da orelha era se alguém já tinha visto um filhote de pombo ou um enterro de anão.


(Fonte: desciclopedia)

 Todos nós já estamos habituados a ver somente pombos adultos sobrevoando os céus e fazendo caca na cabeça das pessoas, assim como também só costumamos ver enterros de pessoas com estatura normal. Já cheguei a pensar, por exemplo, que os pombos já nasciam adultos e os anões não morriam, eles depois de uma certa idade, simplesmente se transformavam em enfeite de jardim.
Para tirar essa dúvida resolvi procurar um vidente que mora no finalzinho da minha rua. Ele além de administrar uma igreja lá no centro da cidade, ele também trabalha como vidente e tarólogo nas horas vagas.
Marquei uma consulta com ele e fui em seu local de atendimento. O ambiente em que ele atende é um misto de tecno-brega com gótico-homossexual.
Perguntei a ele sobre a origem dos pombos e o destino dos anões e ele, sentado em frente à uma mesa, pôs a mão num celular de cristal (não era pra ser uma bola?) e após um tempo o celular toca:
Trriiiiimmm Trrriiiiimmm!!!
- Ó sim, agora posso ouvir as vozes do além!!!!!!!!!!!!!!! Me dêem a resposta para as nossas angústias!!!!
E eu pensando:
- Nossa que dramático...!
Depois de alguns minutos, ele me disse que recebeu a resposta de um tal Anacoluto. Quando ele me esclareceu o mistério dos pombos e dos anões, eu fiquei chocado, com essa fenomenal descoberta. Com certeza, quando eu revelar isso para o mundo, a ciência tomará novos rumos (tá bom). O segredo é o seguinte:
- Os anões nascem e vivem até o fim de suas vidas, só que ao invés de morrerem ou virarem enfeites de jardim, eles se transformam em pombos adultos!!! É isso mesmo que você ouviu! É por isso que nunca vemos filhotes de pombo e nem enterro de anão!!!
Trriiiiimmm Trrriiiiimmm!!!
- Acho que meu celular está tocando...

Contos Mijinianos # 3 - A Chuva



No meu velho quarto me encontro trancado em meio ao negrume, de olhos abertos, mas sem poder enxergar um palmo da minha mão. Fico a observar o nada, tentando fitar algum rastro de luz vindo lá da noite escura, pela janela do meu quarto, transpassando a cortina azul. Porém, o céu da noite nada ilumina, apenas enegrece mais o vazio que vai de mim para o exterior. Assim permaneço em trevas, em busca de algo que não sei dizer, por isso nunca durmo, pois necessito esperar sempre lúcido.

(Fonte: flog)

Lá fora chove densamente. A água, que se sugere infinita, cai ensandecida e uniforme num ritmo tão intenso que, parece querer opor o seu poder a todos os seres terrestres. É como se quisesse engolir a cidade inteira.
Tudo o que sinto agora é o barulho da chuva e, no estado em que estou, mergulhado na fadiga de um dia enfadonho, meus sentidos parecem mais vivazes do que nunca. Sinto a água escorrendo por cima do telhado e precipitando sobre o jardim, molhando as rosas secas e outras plantas não menos amarrotadas. Delas as águas gotejam até o chão formando uma série de ruídos semelhantes e não aleatórios, que parecem querer fazer algum sentido no meio do chiado provocado pelo conjunto da tempestade. É algo que eu nunca havia reparado antes, mas mergulhando dentro desse chiado agressivo posso sentir lá no fundo um simbilar de gotas que pendem sempre de maneira caótica. A água que escorre do telhado faz ecoar um simbilante rasgado que se encontra com o simbilar das gotas no jardim e o simbilar enfurecido das enxurradas, que são como chuvas terrestres que se precipitam sempre em sentido horizontal, sem destino. O conjunto desses sons forma uma melodia muito particular, algo que eu nunca tinha provado a sensação. Pareço-me hipnotizado com o padrão encontrado na desordem da chuva. Essa música, às vezes, confundem meus sentidos, pois sinto a água molhando todo o exterior da casa, apesar de nada enxergar. Sinto a água dominando tudo ao redor do meu lar, tal qual um aquário às avessas, onde sou um peixe que não pode viver dentro do mar. Apenas observo sem poder nada ver.
A chuva é espessa e bate nos muros com bastante ódio. Ela parece querer se aproximar mais de mim, tentando penetrar a muralha que me mantém seguro. Pressagio a água escorrendo por dentro das paredes do meu quarto, mas eu olho para os lados e nada vejo, apenas sinto. A chuva parece dominar meu quarto, pois o chão encharcado pressagio, e mesmo assim não tenho ânimo para pôr um dos meus pés no chão para senti-lo umedecendo-se.
A melodia simbilante continua em ritmo intenso, e quando mais eu me deixo ser dominado por essa harmonia aquática, mais sinto meu quarto enchendo-se de água. Tenho a impressão que a chuva está precipitando apenas dentro do meu quarto, pois olho para a janela, transpassando a cortina azul para observar o céu, mas é em vão, pois nada vejo, apenas sinto.
Deitado na minha cama antiquada experimento a sensação de estar mergulhado dentro da água da chuva. Sinto-me completamente molhado, mas estou enxuto. Sinto-me sufocado pela falta de oxigênio, apesar de ele estar presente. Sinto-me tonto, com vontade de desmaiar, mas acho que estou apenas com sono. E enquanto a música que simbila infinitamente ao meu redor é executada pela chuva com maestria, sinto-me sensibilizado a ponto de me afogar no seco.