Um ronin, resumidamente falando,
era um samurai que não seguia a um daimyo (um poderoso senhor de terras que
governava a maior parte do país através das suas imensas propriedades de origem
hereditária). Quando um samurai perdia o seu senhor ele deveria seguir o
bushido, uma espécie de código de conduta para samurais, e aplicar o seppuku,
um ritual suicida reservado à classe guerreira, onde o samurai perfurava seu
ventre com uma espada. Porém teve algumas ocasiões em que isso não ocorreu,
seja por vontade do daimyo, seja por outros motivos como a vingança, no caso
dos 47 ronin (no singular mesmo, pois não existe plural para palavras
japonesas). Uma vez ronin, o guerreiro passa a ter uma vida solitária e a
peregrinar sem rumo, executando pequenos serviços em troca de comida e
treinamento samurai. Os ronin eram mais temíveis que os samurais por não serem
dependentes do bushido, logo tinham muito mais liberdade para agir de acordo
com seus instintos.
Fonte: (thegeekers) |
Dentre as histórias relacionadas
a ronin, a mais famosa é a lenda dos 47 ronin, bastante popular no Japão. E é
essa lenda que o diretor estreante Carl Rinsch decidiu retratar em seu filme,
acrescentando ainda um pouco de elementos fantásticos da cultura japonesa,
dentre outras liberdades criativas. A história é sobre um mestiço chamado Kai
(Keanu Reeves), que vive em Ako, desde que era garoto, sobre a proteção de
lorde Asano (Min Tanaka). Durante toda a sua vida Kai sofreu discriminação pelo
fato de ser mestiço e nunca foi aceito por Oishi (Hiroyuki Sanada), o chefe dos
samurais. Num determinado dia, o shogun Tsunayoshi (Cary Hiroyuki Tagawa)
visita Ako trazendo com ele o lorde Kira (Tadanobu Asano), que possui um pacto
secreto com uma feiticeira (Rinko Kinkuchi). Juntos eles tramam um plano
conspiratório para acusar Asano de tentativa de assassinato e automaticamente
fazer com que Oishi caia em desgraça. Com a queda de Asano, Kai e os samurais
de Oishi são obrigados a abandonar Ako como ronin e Kira planeja assumir o
lugar de Asano se casando com sua filha Mika (Ko Shibasaki). Para evitar isso,
Oishi decide procurar a ajuda de Kai, que sempre nutriu um forte sentimento por
Mika desde a infância.
Fonte: (bunkernerd) |
Talvez um dos grandes problemas
de 47 Ronin seja a escolha do Rinsch em misturar elementos fantásticos com os
rígidos rituais da cultura japonesa, fazendo com que os valores simbólicos dos
ritos japoneses como o bushido se tornem superficiais. Em troca ele consegue
criar uma aventura com tons épicos, criando cenários maravilhosos, utilizando
figurinos coerentes com a época e o local de acontecimento da trama, e
apresentando criaturas monstruosamente fantásticas, apesar de mal aproveitadas
na maioria das vezes. Não é à toa a qualidade dos efeitos especiais e sonoros,
levando em conta que o orçamento deste filma beira os US$ 200 milhões.
Fonte: (framestoreart) |
Outro ponto é em relação ao
personagem principal, Kai, interpretado por Keanu Reeves. Eu achava a princípio
que o problema do personagem estava na interpretação de Reeves para o mestiço
rejeitado pelos samurais, mas conversando com amigos que também assistiram a
este filme, vi que eles defendiam a atuação de Keanu Reeves, que dava ao
personagem aquela aura meio zen, pra não dizer apagada e não carismática, e
conclui que o problema não estava no ator e sim no personagem. Sim, Kai é tão
apagado na história, que o filme inteiro podia seguir sem a presença dele que
não ia fazer a menor diferença. Outra coisa que não convence nenhum pouco é a
atração entre Kai e Mika, pois não há um mínimo de química entre os dois e apesar
deles terem crescidos juntos, o romance entre eles soa bastante forçado na
trama.
Fonte: (spinoff.comicbookresources) |
Entretanto, se você desconsiderar
o fraco personagem principal pode ser compensado pelos ótimos personagens que a
trama apresenta desde a ala dos bonzinhos com Asano e Oishi, até a ala dos
vilões com os ótimos Kira e a feiticeira sem nome. A história é bem intricada,
cheia de conspirações, defesa de honra e vingança e vale a pena ser acompanhada
até o final. Já o final, apesar de ter um forte apelo dramático, não convence
muito, justamente pela forma trivial com que são tratados no filme rituais como
o seppuku.
Fonte: (thewangpost) |
Outro detalhe menos importante
que eu percebi foi a presença no filme de Rick Genest, o modelo e ator
popularmente conhecido como Zombie Boy. Pra dizer a verdade foi a primeira
coisa que me chamou a atenção quando vi os pôsteres do filme, pensei: “Legal, o
cara aparece com duas armas na mão, deve ser um personagem bem cabuloso no
filme...”. Na prática, Genest não deve aparecer no filme mais que 1 minuto, mas
no marketing de 47 Ronin a gente tem a impressão que ele vai ser um dos protagonistas
da trama e vai ter uma participação importante, mas não passa de um mero
figurante. Vai entender...