quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Filmes # 4 - 47 Ronin



     Um ronin, resumidamente falando, era um samurai que não seguia a um daimyo (um poderoso senhor de terras que governava a maior parte do país através das suas imensas propriedades de origem hereditária). Quando um samurai perdia o seu senhor ele deveria seguir o bushido, uma espécie de código de conduta para samurais, e aplicar o seppuku, um ritual suicida reservado à classe guerreira, onde o samurai perfurava seu ventre com uma espada. Porém teve algumas ocasiões em que isso não ocorreu, seja por vontade do daimyo, seja por outros motivos como a vingança, no caso dos 47 ronin (no singular mesmo, pois não existe plural para palavras japonesas). Uma vez ronin, o guerreiro passa a ter uma vida solitária e a peregrinar sem rumo, executando pequenos serviços em troca de comida e treinamento samurai. Os ronin eram mais temíveis que os samurais por não serem dependentes do bushido, logo tinham muito mais liberdade para agir de acordo com seus instintos.

Fonte: (thegeekers)

     Dentre as histórias relacionadas a ronin, a mais famosa é a lenda dos 47 ronin, bastante popular no Japão. E é essa lenda que o diretor estreante Carl Rinsch decidiu retratar em seu filme, acrescentando ainda um pouco de elementos fantásticos da cultura japonesa, dentre outras liberdades criativas. A história é sobre um mestiço chamado Kai (Keanu Reeves), que vive em Ako, desde que era garoto, sobre a proteção de lorde Asano (Min Tanaka). Durante toda a sua vida Kai sofreu discriminação pelo fato de ser mestiço e nunca foi aceito por Oishi (Hiroyuki Sanada), o chefe dos samurais. Num determinado dia, o shogun Tsunayoshi (Cary Hiroyuki Tagawa) visita Ako trazendo com ele o lorde Kira (Tadanobu Asano), que possui um pacto secreto com uma feiticeira (Rinko Kinkuchi). Juntos eles tramam um plano conspiratório para acusar Asano de tentativa de assassinato e automaticamente fazer com que Oishi caia em desgraça. Com a queda de Asano, Kai e os samurais de Oishi são obrigados a abandonar Ako como ronin e Kira planeja assumir o lugar de Asano se casando com sua filha Mika (Ko Shibasaki). Para evitar isso, Oishi decide procurar a ajuda de Kai, que sempre nutriu um forte sentimento por Mika desde a infância. 

Fonte: (bunkernerd)

     Talvez um dos grandes problemas de 47 Ronin seja a escolha do Rinsch em misturar elementos fantásticos com os rígidos rituais da cultura japonesa, fazendo com que os valores simbólicos dos ritos japoneses como o bushido se tornem superficiais. Em troca ele consegue criar uma aventura com tons épicos, criando cenários maravilhosos, utilizando figurinos coerentes com a época e o local de acontecimento da trama, e apresentando criaturas monstruosamente fantásticas, apesar de mal aproveitadas na maioria das vezes. Não é à toa a qualidade dos efeitos especiais e sonoros, levando em conta que o orçamento deste filma beira os US$ 200 milhões. 

Fonte: (framestoreart)

     Outro ponto é em relação ao personagem principal, Kai, interpretado por Keanu Reeves. Eu achava a princípio que o problema do personagem estava na interpretação de Reeves para o mestiço rejeitado pelos samurais, mas conversando com amigos que também assistiram a este filme, vi que eles defendiam a atuação de Keanu Reeves, que dava ao personagem aquela aura meio zen, pra não dizer apagada e não carismática, e conclui que o problema não estava no ator e sim no personagem. Sim, Kai é tão apagado na história, que o filme inteiro podia seguir sem a presença dele que não ia fazer a menor diferença. Outra coisa que não convence nenhum pouco é a atração entre Kai e Mika, pois não há um mínimo de química entre os dois e apesar deles terem crescidos juntos, o romance entre eles soa bastante forçado na trama.

Fonte: (spinoff.comicbookresources)

     Entretanto, se você desconsiderar o fraco personagem principal pode ser compensado pelos ótimos personagens que a trama apresenta desde a ala dos bonzinhos com Asano e Oishi, até a ala dos vilões com os ótimos Kira e a feiticeira sem nome. A história é bem intricada, cheia de conspirações, defesa de honra e vingança e vale a pena ser acompanhada até o final. Já o final, apesar de ter um forte apelo dramático, não convence muito, justamente pela forma trivial com que são tratados no filme rituais como o seppuku. 
Fonte: (thewangpost)

     Outro detalhe menos importante que eu percebi foi a presença no filme de Rick Genest, o modelo e ator popularmente conhecido como Zombie Boy. Pra dizer a verdade foi a primeira coisa que me chamou a atenção quando vi os pôsteres do filme, pensei: “Legal, o cara aparece com duas armas na mão, deve ser um personagem bem cabuloso no filme...”. Na prática, Genest não deve aparecer no filme mais que 1 minuto, mas no marketing de 47 Ronin a gente tem a impressão que ele vai ser um dos protagonistas da trama e vai ter uma participação importante, mas não passa de um mero figurante. Vai entender...

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