(Fonte: fotolog) |
Em meio a um oceano plácido e deserto em que as
luzes do poente se espalham num horizonte de águas infinitas, de algum lugar
vozes aflitas ecoam causando um contraste com a calmaria do mar:
- Capitão! Capitão! Ai de nós, pois o barco
afundando está! O que hemos de fazer?!
O capitão de grande porte com seu andar
desajeitado observa a agitação como quem não entende o porquê de tamanha
inquietação de seus marinheiros raquíticos. E com semblante sereno ele,
enquanto passa a mão na barriga, diz:
- Ora, homens do mar, para quê tamanho rebuliço?
Não há motivos para tanto alarde, pois não vês? Nosso barco navega dentro da
água e afundando ele há de voltar para superfície e estaremos todos salvos!
Depois do esclarecimento feito pelo seu capitão
fanfarrão os tripulantes da embarcação se dão conta que navegavam do lado de
dentro do mar o tempo todo, mas não tinham idéia desde quando isso acontecia.
Agora, impregnados pelo medo da situação caótica em que se encontravam, a única
coisa que eles almejavam eram retornar sãos e salvos para a superfície. Um dos
marinheiros, porém, lançou no ar uma dúvida singular:
- Capitão! O barco está afundando e estamos nós
navegando de ponta-cabeça como se a superfície fosse o mar e este a superfície.
Se o barco afunda para fora do mar, não hemos nós de afundar nas profundezas da
imensidão do mar? Pois o barco de ponta-cabeça retornará ao outro plano e todos
nós cairíamos ao infinito fundo do oceano!
O Capitão por sua vez, olha para o marujo que
lançou a infame dúvida, vacila como sempre seu cacoete de mão na barriga,
passando sempre a idéia de que está à frente de seus subordinados tripulantes,
e retruca o argumento do jovem:
- Ora não seja tolo! Pois conheço eu tudo sobre
a arte da náutica! Não há o que temer, ó homens do mar. O barco está quase
afundando e sabem vocês o que há de acontecer? Pois vou lhes dizer: à medida
que a nossa embarcação for afundando ela tende a desvirar num ângulo de 180º
quando passar de uma superfície à outra. Assim voltaremos à superfície junto
com o barco. Não se esqueçam das leis da gravidade! É a lógica da natureza!
Convencidos pela tamanha sabedoria do
circunspeto capitão, todos os marinheiros se acalmam e aguardam pacientemente
pela previsão do seu excêntrico superior.
O barco então afunda e, ao passar de um plano
para o outro, ele cai em direção ao céu até, aos poucos, desaparecer nas densas
nuvens, levando consigo toda uma tripulação amargurada que contempla tudo
desiludida e descrente.